''O Mistério do Cesto'' (1982); um bizarro e divertido terror trash oitentista | Marcelo Alves

Uma clássica pérola do cinema de terror trash/ gore estadunidense dos anos 1980.

Imagem: Reprodução (Pôster de "Basket Case", 1982) - por Letteboxd.com
Imagem: Reprodução/Divulgação

'Basket Case', ou 'O Mistério do Cesto' — no Brasil, é um filme norte-americano sobre um jovem estadunidense — Duane Bradley (Kevin  Hentenryck). O filme permeia a trajetória misteriosa do protagonista, e todo o enigma que envolve o inseparável cesto que o mesmo carrega consigo durante todo o filme (ou quase todo). 

Dirigido pelo famoso cineasta de filmes trash — Frank Henenlotter; o querido filme Cult saiu no frutífero ano de 1982, e teve duas continuações — 'O Mistério do Cesto II'  (1990) e 'O Mistério do Cesto III' (1991), — ambas do mesmo diretor;  sequências também notáveis pela fórmula com baixo orçamento e um Gore OVER THE TOP

O clássico original, de 1982, propagou-se no nicho de público de fãs do gênero terror trash dos EUA, durante a década de 1980  — isto, graças à ascensão do formato VHS (Video Home System).

Com o advento do "vídeo em casa" — que já na época, caminhava em passos largos para o seu auge, na década seguinte, fervilhava em produções e lucros com este modelo: uma das maiores razões do sucesso de muitos filmes de terror na data.

FICHA TÉCNICA DO FILME:
Título original: Basket Case; Direção e roteiro: Frank Henenlotter; Produção: Ed. Ievins, Arnold Bruck; Estrelando: Kevin Hentenryck (Duane), Terri S. Smith (Sharon), Beverly Bonner (Casey), Robert Vogel (gerente), Diana Browne (doutora); País: Estados Unidos da América; Lançamento: abril de 1982; Orçamento: U$ 35 mil (estimado); Gênero: Suspense, Terror Trash, Gore, Drama; Duração: 91 min.

ARGUMENTO E INSPIRAÇÕES:
Imagem: Reprodução; captura de filme

Uma vez ouvi falar em algum lugar que a falta de grana numa produção em Hollywood é o pai da criatividade; E deve ser verídico pois se pararmos para pensar, em boa parte dos clássicos de terror dos anos 1970 e 1980, quase todos foram feitos com pouca grana e muita criatividade.

Diretores iniciantes criando clássicos foram casos recorrentes, como em 'O Massacre da Serra Elétrica' (Texas Chainsaw Massacre; 1974), de Tobe Hooper, ou 'A Morte do Demônio(Evil Dead; 1981), de Sam Raimi, por exemplo. Com pouco dinheiro e uma equipe iniciante, notoriamente é o caso deste modesto  Cult.

Este filme foi o importante filme de estreia do diretor Frank Henenlotter — que mais tarde dirigiu verdadeiras pérolas Trash — como os divertidíssimos 'O Soro do Mal' (Brain Damage; 1988)  e 'Frankenhooker: Que Pedaço De Mulher!' (1990), e mais recentemente, o incompreendido 'Bad Biology' (2008).

Imagem: Reprodução; captura de filme

Henenlotter teve inspiração direta em Exploitations dos anos 1970.  Foi assim que ele começou a filmar curtas independentes. 'Basket Case' foi o primeiro longa, e ele assinou roteiro e produção — esta, feita com uma equipe limitada, sem recursos e/ou experiência.

O filme foi produzido no ano de 1981 e lançado em circuito limitado em 1982 em sessões da meia-noite (reservadas para filmes B). O filme só ganhou status de Cult após ser lançado em VHS.

ENREDO — CONTÉM SPOILERS:
A história do filme é focada em Duane Bradley (Hentenryck), que acaba de hospedar-se num hotel meia estrela em Nova Iorque, um muquifo com inquilinos-problema, localizado na Times Square. Duane chega carregando um cesto contendo um mistério vivo.

Foto: Reprodução; Cena do filme com ator Kevin Van Hentenryck
Imagem: Reprodução; captura de filme

SPOILERSAntes da metade do filme, descobrimos: o que mora dentro do cesto é o irmão gêmeo-siamês de Duane, chamado Belial — um ser deformado que tem apenas o torço, e que só comunica-se através da mente de seu irmão, Duane.

Depois disto, sabemos: ambos foram separados ainda na infância. O pai deles não aceitava Belial, e queria dar ao jovem Duane, uma vida e adolescência normais e felizes. Pensando nisto, ele recorreu a médicos para fazerem  uma operação cirúrgica clandestina de extirpação do lixo humano.

Após a cirurgia, Belial é arrancado e descartado como lixo hospitalar numa lixeira qualquer, mas mais tarde é encontrado sub-vivo, e é salvo pelo próprio irmão, Duane

Anos se passam, e depois de todo o Flashback mostrando a história da infância de ambos, ficamos sabendo o real motivo de ambos estarem ali. E nada é por acaso.

Belial convence Duane de que aniquilar os médicos responsáveis pela separação entre eles era o certo a ser feito. Belial executa o plano e Duane faz parte do mesmo, mas perde o rumo depois de apaixonar-se por uma secretária gostosinhaMas Belial tem sede de vingança e uma inveja enrustida de seu irmão, e Duane vê-se esmagado entre o 'certo' e o errado.
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CRÍTICA DE FILME — LIVRE DE SPOILERS:
'Basket Caseé um autentico TRASH  da melhor estirpe. Feito com um orçamento baixíssimo e com uma criatividade sobressalente. Tudo funciona bem em conjunto: a engrenagem lubrificada com o sangue de um bom Gore, a história e histeria, os efeitos especiais práticos e artesanais, os personagens desequilibrados e de viés duvidoso, e tudo o mais.

Foto: Reprodução; Cena do filme com ator Kevin Van Hentenryck
Imagem: Reprodução; captura de filme

O que mais me surpreendeu positivamente neste filme — além dos aspectos técnicos e estilo de produção, foi a história absurda em si. Mesmo sendo uma história de terror, o foco principal é o amor incondicional, a compaixão e devoção por alguém da família — sem se importar com aparência ou defeitos. O laço de sangue.

A relação entre Duane e seu irmão-aberração, o Belial é exatamente isto.

Parece que eu to puxando o assunto pro lado sentimental, mas a verdade é esta. O público ganha a simpatia dos personagens até já antes da metade do filme. Nunca torci tanto para um personagem de filme de terror como torci para o sanguinário Belial — que está numa onda de vingança.

E apesar de tudo, a concepção visual do Belial é bem trabalhada. Mesmo sendo simples, ele é um ser deformado e selvagem que não pode ser responsabilizado pelo fato de ter nascido assim  e as pessoas normais querem livrar-se dele por causa disso. A relação dos irmãos é bem trabalhada e tem um drama que torna o filme um pouco mais verossímil

Também gosto dessa mistura: o filme tem momentos de humor TRASH, momentos que tentam uma seriedade, e tudo o mais acontece em momentos pontuais. As cenas no hotel geralmente são hilárias (um alívio cômico), com destaque para o monstro tacando o terror no quarto e roubando a calcinha da vizinha.

É tudo muito simples, mas eficiente. Sem grandes efeitos visuais, mas até funcionáveis demais, tudo é feito na arte do improviso.  A mistura de horror, comédia e drama é acertadíssima, — deixa o filme bizarro, insano e divertido. É um daqueles filmes impossível de não se amar, desta época.

SOBRE OS EFEITOS ESPECIAIS:
Foto: Reprodução; Cena de 'O Mistério do Cesto' (1982) com ator Lloyd Pace
Imagem: Reprodução; captura de filme

Os efeitos especiais usados em Belial consistem basicamente de um fantoche feito de látex (em cenas principais), com atores controlando-o, e também de Stop Motion, nas demais cenas. Quando a mão de Belial é vista atacando suas vítimas, trata-se, na verdade, de uma luva vestida pelo próprio diretor do filme, Henenlotter.

O fantoche de corpo inteiro de Belial é visto nas cenas em que ele "contracena" (leia-se ataca) com outros atores, e as diabólicas cenas em que seus olhos brilham em vermelho. Em outras sequências tumultuadas, o Belial usado é animação de Stop motion.

Todo o resultado e efeitos especiais resultaram num deleite para os fãs de terror clássico, com um charme especial que os filmes de hoje atuais infelizmente não tem mais.

LANÇAMENTO + RECEPÇÃO NA ÉPOCA:

Foto: Reprodução; Arte de anuncio promocional de 'O Mistério do Cesto' (1982) para VHS
Imagem: Reprodução/Divulgação

Primeiramente, antes do filme ser lançado no formato analógico de VHS, foi exibido nos cinemas no EUA pela Analysis Film Releasing no início em abril de '82. Ele teve relançamento digital a 1ª vez em DVD nos EUA pela Image Entertainment, em 1998 — versão fora de catálogo.

Foi relançado em edição especial de DVD pela Something Weird Video, em 2001. E finalmente, foi re-lançado em alta definição em BLU-RAY, em 27 de setembro de 2011.

'Basket Case' recebeu avaliações justas, ganhando 79% no Rotten Tomatoes.

NO BRASIL — 'O Mistério do Cesto'  — Título nacional do filme relatado avistado em VHS (eu nunca vi, deve tratar-se de uma verdadeira relíquia), teve no Brasil também lançamento digital, em 22 de outubro de 2007. Infelizmente, nos atuais formatos digitais de alta definição do BLU-RAY somente lá nos EUA — com lindas novas artes e extras.

No começo de 2022, o filme foi re-lançado através do 'DIGIPACK' do Obras-Primas do Cinema, no 2º disco do 5º volume da 'Sessão de Terror Anos 80', mas apesar de ter sido restaurado em 2K (FULL HD), infelizmente ainda está no ultrapassado formato digital de DVD, num lançamento conjunto e com um detalhismos rasos.

A NOVA EDIÇÃO LIMITADA: Para comemorar as quatro décadas de existência do 'Basket Case' neste ano passado de 2022, uma nova versão remasterizada em 4K ULTRA (formato que estamos longe de conhecer, mas que é o mais próximo do original dos negativos) foi lançada nos EUA. Com poucas exibições, para circuitos de mostras de filmes, seu lançamento continua aguardado.

REFERÊNCIAS: BluRay.com, IMDB


DEFINIÇÃO DE FILME: ÓTIMO TRASH

 POST CORRIGIDO E ATUALIZADO POR HUGO: 08/08/2023

2 Comentários

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  1. Um dos terror gore e trash mais nostalgicos, conheci na epoca do orrkut. quando ainda existia locadoras

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