7 monólogos de aberturas de filmes de terror e mistério.
Eles são excelentes. Têm a capacidade de usar de uma fórmula diferenciada para abordar os espectadores, inicialmente: nada menos que o intelecto filosófico e o encanto da prerrogativa de suas próprias narrativas.
E se todo bom clássico precisa de um gancho tão marcante quanto o filme em si, os tais monólogos de abertura são ferramentas excelentes para transmitirem boas e instigantes imersões aos seus títulos — deixam-nos pensativos, reflexivos, e introduzem-nos sutilmente ao universo imaginoso nos quais se situarão as tais obras em questão.
Esta é uma lista de gosto pessoal. Bom. Em todo caso, resolvi tentar fazê-la diversificando e intercalando com alguns filmes mais clássicos e outros, um pouco mais atuais. Espero que gostem. *Alguns filmes contém spoilers, mas deixarei avisado antes. ACOMPANHEM:
EM PRIMEIRO LUGAR:
BÉLA LUGOSI em GLEN OU GLENDA?
ABERTURA QUÁDRUPLA — 1935
SINOPSE: Glen (Ed Wood) tem o hábito de vestir-se de mulher, mas teme que a sua noiva saiba disto. Alan (Tommy Haynes) é um pseudo-hermafrodita que deseja fazer uma operação para tornar-se mulher. Estas histórias são narradas pelo Dr. Alton (Timothy Farrell), que acompanhou ambos os casos. E entre eles, um misterioso ser (Béla Lugosi) narra enigmáticas formas-pensamento.
Uma das aberturas mais legais do gênero terror não vem exatamente de um filme de terror. Trata-se, na verdade, de um misto entre drama sociológico com contornos sinistros (e de liberdades artísticas quando o assunto é terror), e que tem um viés de abordagem sobre os costumes e com aguçadas críticas sociais.
Béla Lugosi cumpriu muito bem com o seu papel de apresentação, trazendo um texto narrado num monólogo de quatro segmentos iniciais, e na sua característica atuação de sotaque carregado, agregou um toque de charme a mais — num dos filmes mais desconhecidos e interessantes do antigo cinema dos anos 1930, o "Glen ou Glenda?". CONFIRA.
0:00 — 1º SEGMENTO (O tempo e seus sinais)
1:02 — 2º SEGMENTO (Uma vida se inicia)
2:26 — 3º SEGMENTO (Pessoas; a morte)
3:37 — 4º SEGMENTO (Um novo dia se inicia)
EM SEGUNDO LUGAR:
JOSÉ MOJICA E EUCARIS em
À MEIA-NOITE LEVAREI SUA ALMA
ABERTURA DUPLA — 1963
SINOPSE: Morador numa cidadezinha provinciana, o coveiro Zé do Caixão (José Mojica Marins) é perverso, incrédulo e insensível. Mas ele carrega algo mais — uma sinistra obsessão: gerar o filho perfeito. Ao saber que a sua esposa é infértil, ele a violenta e vai atrás da vistosa mulher de seu amigo — com quem também age de forma impiedosa. Desconsolada, a moça promete suicidar-se. A sua alma anceia por vingança, nem que a mesma venha pelo mundo dos desencarnados.
Uma das melhores aberturas (e admirada mundialmente) de algum filme de terror nasceu aqui no Brasil. A abertura dupla com José Mojica Marins introduzindo seu personagem Zé do Caixão numa certa premissa do que é o filme, e a sequência pós-título com o monólogo de abertura da atriz Eucaris de Morais — interpretando uma bruxa que pratica o contrassenso (inédito) de desconvidar os espectadores do cinema a abandonarem o filme enquanto há tempo, e ainda os amaldiçoa; foi uma ótima mistura. Excelentes ganchos e aberturas para a história.
Como muitos já sabem, o filme todo pensado e feito para os circuitos underground de cinema dos anos 1960 — por isso, todo essa carga em cima desse clichê. E, claro, também é preciso compreender as superstições e mentalidades de todo um povo, daquela época. Um dos maiores filmes de nossa história, de críticas atemporais.
0:00 — 1º SEGMENTO ("O que é a vida?")
1:15 — 2º SEGMENTO ("Péssima noite...")
EM TERCEIRO LUGAR:
LUCIO FULCI; 'UM GATO NO CÉREBRO'
ABERTURA ÚNICA — 1990
SINOPSE: Dr. Lucio Fulci é um diretor de filmes de horror. Sua orgia sangrenta parece estar influenciando-o mais do que ele gostaria. Ele é assombrado por visões de seus filmes todos os dias. Ele pede ajuda a um psiquiatra, sem saber que o médico possui mais problemas que o próprio paciente. O psiquiatra usa as visões de Fulci para realizar assassinatos brutais na vida real.
Uma introdução ótima a este tenebroso e estranho filme estrelado pelo próprio Lucio Fulci. O filme traz uma ótima e diferente narrativa em 1ª pessoa — na perspectiva atormentada e bizarra de um próprio Fulci que discute com o seu próprio alter ego. Sem dúvidas, uma das maiores aberturas, mais enigmáticas e filosoficamente esquisitas do terror italiano e mundial.
EM QUARTO LUGAR:
J. MATSHIKIZA;
'O COLECIONADOR DE ALMAS'
ABERTURA DUPLA — 1992
SINOPSE: Hitch é um misterioso solitário que caminha pelo deserto a procura de perdidos e suicidas. Hitch é procurado pela polícia por ser suspeito da morte de uma mulher na qual seu sangue foi usado num estranho ritual. Um Shaman consultado pela polícia e uma patologista investigam a morte acreditando que Hitch é um Dust Devil, um espírito maligno que pode mudar de corpo e assumir a forma que quiser.
"O Colecionador de Almas" é um dos grandes filmes para se ver e rever; aqui, uma abertura bem mística e cheia de simbologias - narrada pelo ator John Matshikiza (ele também faz o personagem Joe Niemand, no filme). Enigmática, porém que no decorrer da obra, agrega e muito para tentarmos compreender a mente do vilão principal da história: um demônio ancestral e impiedoso. Excelente filme do diretor do ótimo filme "Hardware: O Destruidor do Futuro".
0:00 — 1º SEGMENTO ("Os SUP-PUÁ")
1:07 — 2º SEGMENTO ("Demônios de Poeira")
EM QUINTO LUGAR:
VIC PERRIN;
'OS DEMÔNIOS DOS SEIS SÉCULOS'
ABERTURA ÚNICA — 1972
SINOPSE: Um antropólogo e sua filha descobrem um esqueleto no México e passam a ser perseguidos por estranhas criaturas que querem recuperar os restos de seu mestre, o diabo.
Uma abertura com uma pegada mais clássica e com um estilo praticamente realista, como o de um documentário, a introdução de "Os Demônios dos Seis Séculos" — um clássico sobre gárgulas, não é tão perfeita assim. Tem certos aspectos contraditórios sobre a origem destes seres folclóricos seres, mas se tomarmos pelo lado da liberdade artística, é uma ótima abertura. E nos inicia àquilo que em breve experienciaremos: um mundo novo de místicos seres meio demônio, meio gente.
Esta abertura tem a voz de Vic Perrin — que no filme interpreta o chefe dos Gárgulas. Na dublagem da Tecnisom-RJ, a narração conta com a voz do saudoso Nilton Valério.
EM SEXTO LUGAR:
ARNOLD VOSLOO;
'DARKMAN II - O RETORNO DE DURANT'
ABERTURA ÚNICA — 1995SINOPSE: Peyton Westlake (Arnold Vosloo), o cientista que acreditava ter destruído Durant (Larry Drake), seu principal inimigo e o responsável pela destruição do seu rosto, descobre que ele está vivo. Durant planeja assumir o controle da venda de drogas, colocando no mercado negro de armamentos uma nova arma que tem uma capacidade de destruição inigualável, assim todos vão se eliminar e o caminho ficará aberto para ele controlar novamente a cidade.
AVISO: SPOILERS DE "DARKMAN:A VINGANÇA SEM ROSTO" (1990)
A abertura que dá uma retrospectiva do primeiro filme é excelente. Uma montagem legal e texto montado com uma explicação muito bem elaborada e intuitiva. O filme, em si, pode ser considerado uma sequência muito fraca - embora pelo universo de Darkman ser inspirado numa HQ, Durant retornando foi simplesmente bizarro; e por isto, é um Guily Pleasure de muita gente, mas a abertura - que remonta ao original de 1990, essa ficou simplesmente ótima.
EM SÉTIMO LUGAR:
DANNY NELSON; 'MAD JAKE'
ABERTURA ÚNICA — 1990
SINOPSE: Jake é um mecânico que dirige um lucrativo negócio de peças sobressalentes. Mas não apenas de auto-peças, peças humanas também! Junto com seus dois filhos, ele percorre as estradas desertas da Geórgia sabotando carros para guinchá-los até sua isolada casa no pântano, onde, tanto as vitimas quanto seus carros serão “desmontados” e terão suas “peças” extraídas para serem vendidas. Mesmo sem órgãos essenciais, as vitimas são mantidas vivas o maior tempo possível com a ajuda de bizarras máquinas feitas de peças de carro.
Mais uma ótima abertura em monólogo, e dessa vez sobre religião, com um lunático completo dizendo a sua interpretação bíblica de um versículo ambíguo. É um filme interessante, embora um pouco longo demais, mas a sua abertura é bem legal.
MENÇÃO HONROSA:
JOHN DARRELL; 'O PADRE PSICODÉLICO'
ABERTURA ÚNICA —2001
SINOPSE: Um padre (John Darrell) tem um contato macabro e marcante com o mundo lisérgico, sintonizando-se numa viagem que mudará os rumos de sua vida definitivamente, e que lhe trará um profundo amargor. Filme feito em 1971, mas lançado apenas em 2001.
Este não é propriamente um filme de terror. Está mais para um drama de baixo orçamento com momentos tensos; mas tem essa controversa cena de abertura onde o padre do filme tem uma viagem lisérgica e sua vida torna-se um pesadelo. Um verdadeiro filme de terror,— aonde, preso em sua própria psicose, vemos um diálogo interno dele com ele mesmo, em formas-pensamento.
E, no mais, estas sim, podem ser consideradas cenas de monólogos (até mesmo nos "diálogos") pois o padre fala aos quatro ventos, quase que o tempo inteiro. Enfim.
Controverso, este filme polêmico foi filmado nos Estados Unidos em 1971, e (como dizem) foi censurado, tendo sido lançado apenas em 2001 — 30 anos mais tarde. COMPRE ESTE FILME (Amazon EUA)
0:00 — 1º SEGMENTO ("Velharia sob um altar")
3:36 — 2º SEGMENTO ("Você pode voar...")
4:12 — 3º SEGMENTO ("Você é o escolhido, meu filho")
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Onde tem, pra comprar ?
ResponderExcluirBem lembrado, Roberto. Em sua homenagem, vou deixar os links de cada um aqui, caso se interesse. Abraços.
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