Nova aposta de Robert Eggers em tentar refazer clássico 'Nosferatu' entrará para a história... como só mais um filme.
Estreando as críticas deste novo ano de 2025, farei uma rápida e objetiva crítica (e tentarei mantê-la livre de spoilers) sobre este novo filme 'Nosferatu', do recém famigerado cineasta e roteirista estadunidense, Robert Eggers.
O filme foi lançado ontem, quinta-feira (2), em diversas redes de cinema pelo Brasil e diversas partes do mundo. Mas a estreia mundial do filme foi lá em novembro de 2024, em Los Angeles. Desde dezembro, o filme já vinha sendo exibido em cinemas, nos EUA.
E o filme demorará bem mais ainda para estrear em outras partes do mundo como Coréia do Sul.
DESCRIÇÃO RÁPIDA DE ASPECTOS TÉCNICOS DO FILME:
Bom. Do início ao fim, o filme traz cores frias, em tons de azul e azul escuro — num filtro de sépia que (infelizmente) agora, todo terror parece usar e abusar.
Com seu brilho reduzido e contraste realçado ao máximo, o azul peca pelas excessividades. São duas extenuantes horas de filme, e torna-se cansativo, perdendo o efeito de medo e apreensão, — no meu ponto de vista. Uma pena.
O filme contém a esmagadora maioria de suas cenas à noite (obviamente), mas também traz consigo algumas cenas tensas no pessimismo de dias nublados, com nevascas gélidas, — passando bem uma sensação de terra dessolada, desamparada e abandonada de Deus.
E muitos dos cenários ficaram legais,... mas só cenário não é suficiente para um filme de terror legal (ainda mais de época). O roteiro era tudo, e eles cagaram feio demais em diversos pontos, vou evitar falar mais disso.
ALGUNS ASPECTOS QUE CONSIDEREI POSITIVOS:
Imagem: Reprodução/Divulgação; cena de título de abertura
-ÓTIMO GANCHO INICIAL: ironicamente, uma das cenas mais bonitas desse filme está justamente na abertura. Um bom gancho, mas tão bom que o filme não conseguiu atingir o seu patamar. É esotérico, místico, com um cenário digno dos portentosos e épicos castelos do Conde Drácula.
Mas o excesso de cenas escuras matou o efeito nessa cena mística e bonita. Tornou-se só mais uma. E é tão bonito: um pátio noturno com um luar. Uma simplicidade incrível (que o filme deveria ter copiado).
Imagem: Reprodução/Divulgação; cena de filme
-CENÁRIO DE ÉPOCA TEVE ALGUNS ACERTOS: Os cenários (em grande parte): A representação de uma Alemanha antiga na cena de ambientação do filme ficou muito boa (logo no começo). As cores e preenchimento ficaram um arraso. Muito bom.
Não sei o que eles fizeram, mas a luz ficou perfeita. Mas nem toda cena está tão boa assim. Na verdade, muitas cenas ficaram ensossas.
Além disso, as fontes do filme ficaram legais. Um ponto positivo.
ASPECTOS NEGATIVOS DO FILME (INFELIZMENTE, VÁRIOS):
-FALTA DE SIMPLICIDADE: Uma das cenas que mais me impressionaram, marcaram e que levarei para o resto da vida do filme de 1922, é a simples cena do Conde Orlok carregando seu sagrado caixão em seus braços para transportá-lo para um lugar mais seguro, longe da luz do dia. E consigo, além da cena, - todo o contexto que tornou o original épico.
A simplicidade e bizarrice daquilo mexeu comigo. E essa era a beleza do clássico original — o terror nas entrelinhas e as ficções envolvendo a ideia da morte e de se permanecer morto ad aeternum,... e já aqui não. É todo o oposto: muito terror barato, uma afronta à imaginação e efeitos que cansam as vistas. Fora a forma tacanha que transformaram Nosferatu em bicho-papão.
-CGI E FILTROS DE SÉPIA À EXAUSTÃO: um dos elementos que outrora eu pensava estar excelente, — pelo visto no trailer, no resultado final do filme se mostrou errático. Conforme falei na primeiríssima imagem publicada do filme, — a naturalidade e efeitos práticos (dignos de um clássico como Nosferatu) passaram longe.
O punhado de filtros é o que mais me irritou no filme. Escuro e excessivo. Infelizmente, é um mal dos filmes de terror atuais, e isso talvez possa incomodar os colorimetristas de plantão. Parece um preset de After Effects. Essa modernização — no meu ver, não casa muito bem com cenários arcaicos de mundos antigos. Seria necessário mais ruído na imagem também.
E efeitos práticos que é bom... nada. Mas enfim.
-PSEUDO-SENSUALIDADE: A sensualidade presente no filme em nada se assemelha àquela do clássico original de 1922 — 103 anos atrás. Obviamente. Os tempos mudaram. Mas me incomodou bastante a vulgaridade.
Não sou puritano, longe de mim. O problema é que a sensualidade é um mingau quente que SEMPRE se come pelas beiradas, e o filme não teve essa sensibilidade e paciência (claro, como bom terror moderno imediatista e sedento por impressionar a qualquer custo). Faltou.
*É claro que vai do que cada um acha sensual, também. E consigo, as épocas. Difícil é querer transplantar comportamentos e coisas não condizem com um filme passado em 1838. Mas isso fica a critério da minha opinião mais particular.
E no entanto, a vulgaridade boba com o qual se abordou a sensualidade aqui, com cenas sem imaginação, onde a nudez é absolutamente gratuita, vemos o que mais pareceria ser o objetivo do diretor e produção aqui: garantir vendas e publicidade.
VAMPIRISMO DE CLÁSSICOS DO TERROR: Notei cópias "inspirações" de, no mínimo, 'O Exorcista' (1973), 'O Enigma do Mal' (1983) e várias tentativas de inspiração de 'Possessão' (1981), 'A Hora do Pesadelo' (1984) e 'A Lenda do Cavaleiro sem Cabeça' (1999). *Mas fiquem à vontade para discordar ou achar essa observação exagerada.
-E, PARA MIM, O PIOR PONTO DE TODOS: A embalagem imediata do filme. A cereja sangrenta do bolo. A praga diabólica. Nada menos que o suprassumo da existência deste título: o Conde Orlok.
Está patético.
Vou evitar maiores detalhes, mas só digo isto: tentaram reinventar o tão emblemático personagem de uma maneira tosca e completamente esquisita.
ELENCO — UMA ANÁLISE RÁPIDA SOBRE ELENCO E PAPÉIS:
De fato, o corpo bonito e de rosto confusamente inocente da modelo francesa Lily-Rose Depp — como a (supostamente) irresistível Ellen Hutter pode chamar a atenção dos jovens mais interessados de hoje, que forem ir ver ao filme no cinema, mas a despeito de pouquíssimas cenas, ela só fez o feijão com arroz em seu papel.
E nem a culpo assim, tão indiscriminadamente. O seu script que é terrivelmente limitado. Em poucas cenas ela teve oportunidade de mostrar ao que veio realmente (se veio).
Ela essencialmente só se apavora, faz trejeitos de espanto, sofrimento e grita o filme inteiro. Nada de mais aprofundado, nenhuma grande fala. E em pouco se desenvolveu seu personagem — que foi um dos erros crassos dessa refilmagem, se queria remodelar pra melhor o clássico original em que a mocinha, sim, pode ser vista como um ponto a se lapidar.
E já ao contrário da esbelta Depp, o ator britânico Nicholas Hoult — que protagoniza o marido bobo Thomas Hutter, está beirando o mesmismo nesse filme, — nem tanto que seja mau ator, mas o rosto dele não impacta nem uma mosquinha (eu sei que é um dos puxadinhos de atores-revelação da nova "Hollywood do terror"), mas seu cast não me convence como protagonista de nenhuma história séria.
*Conheci esse ator no filme 'O Menu' (2022) onde ele interpreta um boboca ridículo que morre de maneira mais boboca ainda. Quem levantou o elenco desse filme tinha senso do ridículo.
As expressões faciais dele são desinteressantes e seu rosto, pouco marcante para o papel.
-
William Dafoe está interessante. Mas, para mim, nada além. A promessa (propaganda enganosa) que tivemos com ótimas cenas dele, antes, em cena, não se concretizaram. No resultado final, o personagem e sua trajetória acabaram em mais do mesmo. Acho que ele só queria o dinheiro da produção mesmo.
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Sobre o Bill Skarsgård de Conde Orlok: dispensável. Terrivelmente horrível.
*Tanto se especulou sobre como o visual do vilão emblemático estaria, e a conclusão foi uma decepção bizarra. Comento mais abaixo.
O MEU VEREDITO FINAL E UMA OPINIÃO SINCERA:
É superestimado. E digo, infelizmente. Para mim, não é uma obra-prima — mas nem remotamente. E passou longe desse honrosa menção.
Lamento para quem gostou bastante, mas eu nem sequer considero uma boa readaptação. Faltou imaginação, o Conde Orlok original — com toda a sua simplicidade minuciosa, teatral e bem menos gore, metia muito mais medo, inclusive.
O fato é: duas horas de filme é fácil atirar para todo lado e ter acertos, mas os erros suplantaram bastante. Para quem se impressiona fácil, é mole taxá-lo de 'obra-prima', mas o roteiro é simplesmente mediano.
Não existe nada que o filme traga de novo para o gênero, nenhuma reinvenção genial do clássico original — a despeito de algumas poucas cenas boas (a maioria citada aqui mesmo). É só mais um filme, e assim será lembrado num futuro próximo.
Dentre todas as readaptações, essa foi uma das piores e mais desproporcionais, para mim. *Ainda não vi todas, mas pretendo fazer um apanhado ainda este ano.
Considero a grande bola fora do cineasta Robert Eggers até hoje. E, na minha opinião, Eggers deveria tentar voltar a criar coisa original. Essa de readaptações não é para ele.
NOTA FINAL: 7,1 / 10
CONFIRA O TRAILER OFICIAL (CONTÉM LEGENDAGEM):
Pra queeeee mais um Nosferatu....
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