Além de uma expressão facial peculiar, uma talentosa artista com formação pregressa no teatro; conheça.
Há poucos anos, a jovem atriz-revelação Milly Shapiro protagonizou um dos papéis em filmes de terror mais memoráveis e
medonhos dos últimos anos, em 'Hereditário' (Dir.: Ari, Aster, 2018). Especificamente, numa cena que ficou
mais marcada na mente de muitos — mais do que uma retina ocular
encarando o sol, no desfecho trágico de sua personagem, a
estranha Charlie.
E, desde então, a atriz — uma das grandes revelações deste novo terror
que tem surgido; tem sido comentada, elogiada, criticada e, acima de
tudo, bastante reconhecida, pelo seu trabalho. Dona de um talento
excêntrico — que veio a calhar em sua personagem, ela é dona de uma
personalidade e condição, também peculiares. E digo mais: tem tudo para
brilhar no gênero terror.
MAS QUEM É A MILLY SHAPIRO?
Amelia 'Milly' Shapiro tem 20 anos. Ela nasceu em 16 de julho de
2002, na cidade de Tampa, na Flórida. Filha
de Eric e Michelle Shapiro, tem uma irmã mais
velha que também dedicou-se às artes da atuação, no cinema (e na
música): Abigail Shapiro, — ela ficou conhecida, após
interpretar Dorothy Spinner, em 'Patrulha do Destino' (uma série baseada em HQ) — e já até gravaram um álbum juntas.
No entanto, o que mais chama atenção em relação — não somente à
Milly, mas quanto às mulheres da família Shapiro, é que todas
elas compartilham de uma mesma condição genética rara — a chamada disostose cleidocraniana. Vocês conhecem outro ator com a mesma condição:
Gaten Matarazzo (Dustin, de 'Stranger Things'). A disostose altera a feição, ossos do corpo inteiro, e caracteriza-se
também, pelo crescimento lento dos dentes.
Logo quando ainda nova, ela mudou-se para Nova Iorque em busca
de aprimorar seus talentos de atuação, e na música.
PREGRESSO TALENTO
— TEATRO, MÚSICA E CINEMA:
Imagem: Reprodução/Divulgação
Shapiro ama artes cênicas e atuação, mas a sua trajetória anterior
sempre gravitou apenas em torno da música. Mas a sua apresentação foi tão
boa e expressiva que ela foi uma das poucos atrizes a conseguirem um papel
de protagonismo logo após uma primeira audição, na Broadway.
Mas não foi fácil: antes, rejeições frequentes, em audições, mantiveram
Milly longe dos palcos por um bom tempo. Segundo disse, a aparência
era um fator tão crucial nestas audições que ela perdia o papel, logo de
cara, apenas por isto.
No entanto, seu amor pela representação superaram as dor da rejeição: ''Se o amor [por atuar] supera a parte desagradável, você continuará, e eu
sinto que, para mim, atuar é algo que amo de todo o coração, mesmo quando
é muito difícil ou muito complicado. Eu ainda quero continuar.''
Em 2013, ela interpretou Matilda na produção 'Matilda: The Musical' — feito em tributo ao filme 'Matilda'
(1996). Milly
disse ao Dread Central que a gravação do elenco rendeu uma indicação ao Grammy: ''Recebemos uma indicação ao Grammy por nossa gravação, e as quatro garotas
que interpretaram o papel de Matilda, inclusive eu, todas recebemos o
Honorary Tony Awards por Excelência em Teatro.''
Após atuar em Matilda, Milly interpretou a personagem
Sally Brown no musical
Off-Broadway, You're a Good Man, Charlie Brown, em 2016.
A ESTRADA — DA BROADWAY ATÉ O HORROR:
Imagem: Reprodução/Divulgação
E então, houve um bom hiato até que Milly Shapiro conseguisse o seu
papel de destaque no drama familiar de terror de 'Hereditário', em 2018. Ela basicamente pulou das artes cênicas da
Broadway direto para o cinema de terror (como fizeram também
grandes atores — visse
Béla Lugosi, — que antes de ir para o cinema, já tinha interpretado mais de 1 mil
vezes o personagem em teatro).
Mas ela odiava assistir a si própria, durante as produções. Ela esperou até
o lançamento do filme e assistiu com o público. No entanto, ela adorou o
desempenho de seus colegas de elenco, criando um excelente produto final.
''Eu assistia a todos os outros atores, que foram realmente incríveis, e fiquei impressionada. Eu estive lá durante boa parte das filmagens, mas ver o produto final com a trilha sonora, o som, as cores e todos os ótimos atores… foi tão legal!'' disse Milly, dois anos após a sua maior atuação no terror, e em entrevista ao The Face, em abril de 2020.Milly não se importa em ser reconhecida por seu papel em 'Hereditário', mas ela admite que odeia ser comparada com a personagem, na vida real. ''Eu amei fazer 'Hereditário', sempre serei eternamente grata por ter tido tal oportunidade, e de fazer parte disso. É um filme tão bom. Estou feliz que as pessoas me vejam como a garota hereditária Mas como atroz, é sempre difícil, porque muitas vezes quando você é diferente do seu personagem, as pessoas ficam tipo: ''O quê? Isso é estranho'', e você fica tipo: ''Eu não sou o personagem...'', explicou.
AUTO-CONFIANÇA, PRECONCEITO E AS REDES:
Mas, apesar de tudo, o talento e personalidade de Milly Shapiro demoraram a aflorar, na infância e juventude. Ao
The Face, ela disse que demorou muito para sentir-se confiante quanto a sua própria
aparência — especialmente, em público. Antes de atingir o sucesso, ela usava
excessivamente roupas largas, pois não queria mostrar o seu corpo e/ou
chamar atenção. Eventualmente, ela aprendeu a libertar e aceitar o seu
verdadeiro eu.
Shapiro confessa que ficou mais confiante sobre sua aparência
após ingressar no TikTok, há alguns anos. A atriz falou ainda,
ao The Face: ''Para os padrões de um ator mirim, é uma regra não-escrita que você tem
que ter uma aparência bastante neutra, então: nada de cabelo tingido,
raspar sobrancelhas, pôr piercings ou usar tatuagens. E maquiagens
malucas são um grande não''.
Ela ingressou no TikTok como uma brincadeira. Apesar de passar muito tempo no aplicativo,
seus seguidores não cresciam muito. Mas um belo dia tudo mudou.
Imagem: Reprodução/Divulgação
Milly recebia (e ainda recebe) vários comentários negativos
e preconceituosos devido à sua condição, mas ela não está nem aí mais,
explicou (ainda em entrevista): ''Usar uma maquiagem extra, diferenciada, ter um cabelo incomum,
vestir-me de maneira diferenciada, fazem eu me sentir mais
confortável, pois assim eu me sinto no controle da minha própria
aparência.''
PLANOS PARA O FUTURO... NA MÚSICA?
A pausa prolongada de Shapiro na atuação permitiu
que ela se concentrasse mais na sua música autoral. Ela
constantemente incentiva as pessoas a ouvirem seus lançamentos e
fica feliz que a música ocupe seu tempo. ''Eu com 17 anos não acreditaria que faria música e que pessoas
(além do meu melhor amigo) ouviriam as minhas músicas'', escreveu ela em 2022, no TikTok.
Fazer uma faculdade também está nos planos de Milly, e
agradece ao diretor Ari Aster pela oportunidade de
destaque. ''Ele me escreveu uma carta de recomendação da faculdade, pela qual
fiquei muito feliz'', disse Shapiro.
Imagem: Reprodução/Divulgação
Atualmente, Milly Shapiro afirma orgulhosamente em
suas páginas de mídia social que é lésbica. ''Eu com 15 anos ficaria chocada por me declarar como gay, mas também
feliz por admitir isso para mim mesma'', escreveu ela no TikTok. Ela já foi confundida com uma e-Girl, mas recusa o
título, embora ela tenha dito que admire quem se identifique como tal.
As redes sociais de Milly mostram que ela veio para
quebrar todas as regras pré-estabelecidas sobre a apresentação e
representação dos atores-revelação - especialmente, no terror:
normalmente, ela usa cabelos tingidos, maquiagens pesadas, e
contradiz a cartilha e os paradigmas do bom-mocismo — tão
tradicional em Hollywood.
OPINIÃO:
Ela, sem sombra de dúvidas, está entre os jovens atores atuais que mais
podem ter um futuro brilhante pela frente. Espero que ela persista e
prossiga no gênero, porque o tempo não está fácil para o mesmo. Há um
grande desfalque de bons talentos, e principalmente, de coisa
autêntica e original — não só no terror, mas no cinema como um
todo. Mas falando especificamente do gênero terror, há muitos atores e
roteiristas medíocres aí na praça, só rebuscando aquilo que já está
posto e mexendo com memórias afetivas. Ela pode agregar muito, sendo tão
pregressa — pois ao contrário dos demais, ela tem uma dedicação mais
substancial às artes cênicas.
E mais: o papel do terror na história sempre foi o de destacar bons
talentos sem o reconhecimento merecido — e também, o de dar
passagem a novos e excêntricos atores que sofriam de condições físicas
— visse Rondo Hatton, Zelda Rubinstein, Michael Berryman, Robert Z'Dar, e tantos
outros atores bons, médios e ótimos.
Uma das funções do terror é a de dar destaque a grande novos potenciais
— mas aqueles que merecem, é claro. Milly é uma destas
pessoas. Tudo só vai depender dela própria (ou quase tudo — é sabido
entre os atores que sorte, e estar no lugar certo, na hora certa, também
são decisivos e chave, nesta equação). Só espero que ela não se perca
nessa cultura pop mediana da atualidade.
Enfim. Boa sorte para em sua estrada.
REFERÊNCIAS: Entrevistas de Milly — Dread Central,
The Face, The New York Post e Entertainment Tonight; Redes sociais de Milly:
Instagram
e
TikTok
hereditario é ruim, mas a cena dela é boa
ResponderExcluirPode ser. É a sua opinião, pelo menos.
ExcluirAchei que era ele, nao sabia que era mulher
ResponderExcluirÉ mesmo é
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