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Crítica (sem spoilers): "Tarde da Noite Com o Diabo" (2023); belo terror vintage do Shudder

Filme remonta ao estilo único e inconfundível dos anos 1970, com muita sátira desta época e humor negro.

Imagens: Reprodução/Divulgação (Filme/ cartaz - IMDB)

Filmado na Austrália, em meados do segundo semestre de 2022, novo filme é o grande destaque do momento no famigerado canal de streaming estadunidense de filmes de terror dos últimos anos, o Shudder —  que tem se envolvido pesadamente com produções, tornando-se algo como um Netflix do gênero de terror, lá fora. (Há observação sobre isto em tópico abaixo)

"Tarde da Noite Com o Diabo" teve a sua estreia realizada em março de 2023 num prestigiado festival de cinema realizado na cidade do Texas (EUA),  o South by Southwest Film Festival (SXSW); e estreando ao lado de alguns outros títulos de destaque de terror atuais como "A Morte do Demônio: A Ascenção".

*Para não estragar a experiência de quem pretende assistir o filme quando lançado no Brasil, daqui a mais de tristes 4 meses, farei uma crítica focada em abordar aspectos, perspectivas, nuances e os enfoques deste novo filme e nova produção. Então, podem ficar descansados, não possui spoilers.


UMA PEGADA VINTAGE INTERESSANTÍSSIMA:
Crítica livre de spoilers — O filme já se inicia com uma montagem lindíssima e que me fez ficar simplesmente vidrado: a de documentário no melhor estilo anos 70/80/90, com narração e tomadas pontuais.

Com uma edição bem cuidadosa, e numa abertura esmerilhada ao ótimo som de "Forever My Queen", da grande banda de Heavy/Doom dos EUA, o Pentagram, há nada menos do que oito minutos e meio de introdução.

E, bem, esta escolha foi perfeita. Com o uso deste modelo introdutório, o filme apresenta o protagonista do filme numa biografia fake que corre em logo nos situar com precisão sobre o contexto do filme, em menos de exíguos 10 minutos.

No entanto, este é apenas o gancho inicial para prender a atenção dos telespectadores, logo em seguida o filme adota tons mais amenos.


ÉPICA NARRAÇÃO INICIAL — POR MICHAEL IRONSIDE:
Imagem: Reprodução/Divulgação (cena de abertura)

A narração original inicial desta abertura de filme é de ninguém menos do que o lendário ator Michael Ironside, com seu vozerão de trovão, — um ator ex-roteirista com extenso currículo dentro e fora dos filmes de terror dos anos 1980 e 1990, e atualmente, um sobrevivente do câncer, e que aos 74 anos, continua arrebentando.

*Gosto do Ironside porque ele sempre levou os trabalhos que fez a sério — por mais ínfimo que o filme pudesse parecer. Em sua carreira, ele se importa prioritariamente com a qualidade do roteiro pois sua formação foi como roteirista. E assim como outros como Lance HenriksenLarry DrakeBill PaxtonJeff Fahey (e tantos mais), sempre levaram a sério e enriqueceram grandes joias ocultas do cinema B.
*Aos fãs de videogame, vocês devem lembrar da voz de Michael Ironside mais popularmente pelo personagem protagonista Sam Fischer, da franquia de jogos Splinter Cell, em oito jogos. Confira a lista.


FILME QUE TENTA CONQUISTAR OS MAIS ANTIGOS:
Imagem: Reprodução/Divulgação (cena de abertura)

É notório que este filme busca trazer ao máximo o espírito dos filmes antigos de terror, resgatar nem que seja um pouquinho as nostalgias, e entregar ao máximo o verdadeiro presente de voltar ao passado, aos mais saudosistas e que não gostam desse novo formato xexelento e completamente desprovido de autenticidade que tem adotado o "novo" cinema de terror de Hollywood, caucado em refilmagens.

Com isto, ele logra êxito, — apesar da próxima e complicada questão citada no tópico abaixo; e apesar das nítidas influências diretas em filmes como "O Exorcista" (1973), "Uma Noite Alucinante: A Morte do Demônio" (1981) e até "O Rei da Comédia" (1982), é uma homenagem que moldou sua própria personalidade e espaço, não usando estes clássicos como muletas, mas mais como alvos de sátiras (ao menos, no começo).


A QUESTÃO DOS FILTROS DE CINEMA ATUAIS:
Imagem: Reprodução/Divulgação (cena de montagem do filme)

Atualmente, o dom de usar filtros digitais e causar um bom efeito e produto final têm se mostrado uma verdadeira forma de arte correlata diretamente a produções de todo o tipo  pequenas e grandes, e com este filme não é diferente. Mas acho que na somatória final, até que ele se saiu bem.

O filtro é, claro, com estilo dos anos 1970, mas ainda assim... falta algo.

Com um filtro, no entanto, muito do esquisito, ele mais parece aquelas imagens com realce feito através do artifício (ainda quase rudimentar) de inteligência artificial. Mas infelizmente, os filtros erram muitas vezes no filme, dando diferenças que incomodam aqueles com olhos mais afiados para efeitos visuais e colorimetristas.


FILME APENAS "PSEUDO-AUSTRALIANO":
Ainda assim, apesar de ter sido praticamente todo este novo filme filmado na Austrália (a despeito, claro, de takes e filmagens exibidas nas montagens), o filme possui mente, corpo e alma estadunidenses. As montagens, no entanto, falam fundo no âmago de uma das maiores feridas dos Estados Unidos da América: a violência dos anos 1960 aos 1980.

É bom relembrar. *Para quem acha que toda essa violência de hoje de compatriotas gratuitos em massacres de escolas é uma violência escancarada dos EUA que surgiu agora, mas na verdade, a violência lá vem de longe, e sempre esteve presente na TV do povão estadunidense.


CINEMA VINTAGE ATUALMENTE EM ALTA:
Imagem: Reprodução/Divulgação (cena do filme)

Um dos grandes destaques deste ano é o segundo filme "Coringa" com Joaquin Phoenix e Lady Gaga, e a título de comentário, parece que o revival do cinema antigo, setentista e oitentista, nunca esteve tão em roga quanto atualmente, em 2024.

Neste contexto surge "Tarde da Noite...", o filme é uma remontagem completa e que surge numa época como resgate de outra época, e seu público-alvo de saudosistas (ao qual me incluo, modestamente [sei valorizar coisas boas atualmente, apesar de tudo]).

É isto e a tendência é crescente, de adotarem este modelo de cinema vintage, anotem aí. Além dos claros indícios de revivals de grandes filmes de terror que temos para este o próximo ano, como "Os Fantasmas se Divertem 2", entre outros, e até mesmo pela forma que Hollywood adotou neste último Oscar em seu momento de maior destaque com Arnold Schwarzenegger e Danny DeVito fazendo rápidas piadas com Michael Keaton.

Mas muito mais do que isto tudo, o vintage dos anos 1970-1990 já tem o seu público fiel, e falando especificamente de lucro para os estúdios, deve ser mais interessante para ganhos, já que ficar fazendo refilmagens, reinicializações e cópias baratas não têm vingado tanto assim (a título de qualidade e contexto, principalmente).


SHUDDER, O FAMIGERADO "NETFLIX DO TERROR":
Há ainda que se levar em consideração sobre as atuais e novas produções do recém-criado (em 2015) canal do Shudder.

Este é, na verdade, um sub-canal do famoso AMC. Mas ao contrário de seu canal-mãe, as produções são realmente menos elaboradas e dignas de prêmios, tornando-se bem parecidas com as do Netflix, que até hoje considero que mais erram do que acertam  em suas produções 100% originais, é claro.

E tanto o Shudder como o Netflix são excelentes canais novos para apoiar novas produções, mas não são tão boas produtoras de filmes assim — até porque não surgiram neste formato, e suas especialidades têm outros enfoques.

Mas no caso da Shudder, há muitos acertos. E esta nova produção de "Tarde da Note Com o Diabo" é assinada apenas desta forma pelo canal — produção e distribuição à suma, mas a mão da na massa de fato, inclui uma listinha de nada menos que 9 produtoras e mini-produtoras de filmes. Para verem como o cinema mudou.

A principal produtora do filme (e a primeira da lista) é a IFC Films.


BREVE DESCRIÇÃO DO FILME SEM ENTREGÁ-LO:
Imagem: Reprodução/Divulgação (cena de montagem do filme)

O filme se passa inteiramente num auditório, num programa como que daqueles do Silvio Santos (mais antigamente, no Brasil), e lá fora como programas populares do tipo dos anos 1970, e que ainda hoje são tão comuns e famosos.

O programa, em questão, é o "Night Owls" (Corujas Noturnas [trad.livre]), e lá o apresentador, Jack Delroy, — interpretado por David Dastmalchian (A Última Viagem de Demeter, In Search of Darkness III, Bicho Papão e Os Suspeitos).

Lá, um ritual tenebroso é realizado, e um mal se manifesta. E logo o que passava-se apenas como um programa beirando o paspalhão e hilário torna-se sinistro, enigmático e medonho.


A DISCREPÂNCIA DE DATAS DE ESTRÉIA:
Infelizmente, no Brasil, o filme só estreia em agosto. Não há informações ainda sobre quais cinemas que o trarão (se trarão). No entanto, o filme já está disponível em "plataformas alternativas", fiquem à vontade para buscá-lo.

Aí eu deixo com vocês.


OPINIÃO SINCERA E SEM FILTROS SOBRE ESTE FILME:
Imagem: Reprodução/Divulgação (cena de montagem do filme)

Este filme está entre os melhores filmes de terror do ano de 2024, mas não se empolguem muito: é única e exclusivamente pela escassez de títulos de qualidade, senão estaria na lanterna.

Muito infelizmente. E até que é um ano modesto para o gênero, — melhor do que outros passados, mas também ainda, fraco. Espero que algum lançamento seja realmente interessante ainda, lá para o Dia das Bruxas.

E já sobre o filme: achei a transição gradual interessante, mas não considero que mistura muito bem humor com horror, aliás, bem longe disso. Ele bem que tenta, mas são praticamente paralelos um ao outro... e há de se convir que o humor deste filme é bem bobinho, — excluindo aqueles que buscam um filme com tons mais sóbrios, maduros e sérios.

Por outro lado, é engraçado ver um filme que beira o distópico quando toca em assuntos sociais, em contraste a um programa de TV bem paspalhão. É uma forma de crítica social: a famosa analogia do pão e do circo. Bravíssimo neste ponto.

CONFIRA AQUI O TRAILER OFICIAL (LEG.).

*Quero conferir ainda "A Primeira Profecia" — que pelo que ouvi falar tem qualidades e cenas interessantes.


RECOMENDAÇÕES DE TÍTULOS:
Para quem gostar deste filme, deixo aqui algumas indicações de filmes e documentários:

-"O Exorcista" (1973);
-"O Massacre da Serra-Elétrica" (1974);
-"Carrie, a Estranha" (1976);
-"A Morte do Demônio" (1981);
-"Massacre na América" (1981);
-"O Rei da Comédia" (1982);
-"Coringa" (2019);

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