FOTO: REPRODUÇÃO/DIVULGAÇÃO
Na noite desta segunda-feira (15), o filme "FUGA SEM DESTINO", do versátil diretor, ator e roteirista Afonso Brazza, teve sua exibição única e definitiva realizada, no clássico e histórico Cine Brasília, bem próximo ao centro do Planalto Central, na Asa Sul. Falaremos um pouco sobre esta exibição, e o filme.
O filme — o mais bem financiado e executado da carreira do cineasta independente (seguido proximamente pelo seu penúltimo filme, 'Tortura Selvagem - A Grade', de 2001), foi um marco em seus feitos e peripécias cinematográficas. No entanto, muito infelizmente, Brazza veio a nos deixar em plena filmagem em junho de 2003 por complicações de um câncer de esôfago, deixando o filme incompleto e outorgando a tarefa de finalizá-lo a um amigo.
QUEM FOI AFONSO BRAZZA?
Morando aqui em Brasília, Afonso Brazza ganhou a sua notoriedade. Ele residiu por muitos anos na cidade do Gama, aonde até atualmente, ele mantem-se como um dos mais notórios e mais famosos cineastas da região (que já foi berço do Pólo de Cinema de Brasília - hoje abandonado).
Devido ao tipo de cinema que ele produzia: espontâneo, catártico e lúdico, o ator caiu que pejorativa alcunha de filmes TRASH - embora ele própria tenha sempre repudiado o termo torpe.
SUA CRIAÇÃO NO CINEMA:
Ainda adolescente, Brazza se entregou à arte de fazer filmes. Em São Paulo, ele trabalhava numa mera pastelaria, mas nas horas vagas, frequentava a lendária Boca do Lixo — um circuito/reduto de cineastas no centro da Grande SP, de onde saiam produções independentes de Pornochanchada e que, sobrevivendo à ditadura, manteve a sua estética Trash; quando ele morava por lá, fazendo parte na parte de técnica e integrando-se ao elenco de produções de alguns diretores mais conhecidos.
Nesta mesma época, ele conheceu sua esposa Claudete Joubert (atriz da Boca do Lixo que casou-se com ele), e o grande cineasta José Mojica Marins (Zé do Caixão) — mais tarde, Mojica veio a fazer uma bizarra participação no mais popular filme de Afonso, o Tortura Selvagem - A Grade, de 2000.
O ator utilizou-se muito em seus filmes daquilo que aprendera de sua época na Boca do Lixo, desde técnicas de atuação, filmagem, até dublagens e improviso. Enfrentando dificuldade financeiras, Brazza começou seus filmes com recursos precários, vindo a filmar seu 1º filme com restos de negativos de outras produções.
PROFISSÃO E FALECIMENTO EM 2003:
Apesar de escolher ser bombeiro como sua grande profissão formal, Afonso tinha o cinema para muito além de um mero Hobbie. Era a sua enorme paixão, e o fazia por puro prazer e diversão de criar.
Infelizmente, Brazza nos deixou no ano de 2003, em decorrência de um câncer de esôfago, um ano depois de iniciar as filmagens de seu último e mais bem realizado filme, o “Fuga Sem Destino”, mas o filme fora deixado inacabado. Mas no seu leito de morte, pediu ao amigo - e também cineasta, Pedro Lacerda, para finalizá-lo.
O RESGATE DO FILME POR UM AMIGO:
FOTO: REPRODUÇÃO (Correio Braziliense)
Pedro Lacerda é o cineasta que levou adiante o trabalho, sendo responsável pela conclusão do filme. Deixaremos aqui uma ótima entrevista que Pedro concedeu ao jornal Correio Braziliense em junho de 2015, detalhando sobre a história, os bastidores do filme e mais, confiram.
A EXIBIÇÃO NO CINE BRASÍLIA:
Fazendo pouco menos de 15 anos da fuga de Afonso do nosso plano físico, e deixando o filme praticamente sem destino, vemos a sua conclusão sendo entregue oficialmente numa exibição única e definitiva.
O filme chegou a ser exibido ainda no ano de 2006 numa outra sessão, mas ganhou uma estréia de lançamento oficial com reedição melhorada e definitiva.

CARTAZ DE FILME EM EXIBIÇÃO NO CINE BRASÍLIA
SINOPSE:
O filme conta a história de Trovão, presidiário condenado a 60 anos de prisão, que arma uma fuga espetacular, aceita o serviço de um gângster como seu “último trabalho sujo”, mas em seguida tem de se livrar dos bandidos numa verdadeira fuga sem destino. No elenco, o trio de base Brazza-Claudette-Liliane e mais, três fiéis colaboradores na arte da comédia dos erros.

SEM SPOILERS — O filme traz as velhas fórmulas que fizeram do cinema de Brazza conhecido e popular entre os brasilienses: as cenas de Ação unidas das dublagens desproporcionais e feitas por dubladores profissionais sempre, as participações especiais de figuras dentro e fora da área de atuação profissional (mas necessariamente figuras famosas: Frank Aguiar, Ricardo Noronha, Liliane Roriz, etc); as mortes satíricas, exageradas e excessivas de capangas burros (dignas de filmes do Rambo - daí o apelido Rambo do Cerrado), personagens poderosos e algumas surpresas a mais, por causa do maior orçamento de sua produção.
Em termos técnicos: a imagem estava legal. Filmado em FULLSCREEN (4:33), embora, de início, a exibição tenha mostrado o filme em WIDESCREEN (16:9) durante algum tempo - por um breve desacerto no projetor. Nada demais.

INGRESSOS DA EXIBIÇÃO
SOBRE O ESPAÇO:
Eu fui lá poucas vezes, mas considero o Cine Brasília um ótimo espaço para filmes, com um espaço generoso e uma tela e som perfeitos (muito melhor que o apertadíssimo CCBB de Brasília). Infelizmente, esse filme - e a obra de Brazza e muitos outros cineastas da nossa região, são muito sonegados. Se tivéssemos o mínimo de respeito pela memória cultural do nosso cinema, haveriam exibições frequentemente não só deste, mas de muitos outros filmes associados a. Essa é a minha opinião.
TRECHOS DO FILME EM EXIBIÇÃO
Como não poderia deixar de ser, muitos dos presentes caíram em gargalhada nas diversas cenas do filme. Como de praxe, revemos a edição grotesca, erros e descuidos de continuidade de cena e figurino, cenas com cortes frequentes. Essa é uma marca registrada do Brazza.
Momento antes do filme fizeram uma pequena homenagem reunindo grande parte de seu elenco, onde os realizadores puderam dar algumas palavrinhas.
AFONSO BRAZZA (1955 - 2003)
ATUALIZAÇÃO - 01.03.2023: O Grupo Metrópoles remasterizou o filme, sua arte, edição, e pretende novas exibições e um possível futuro lançamento. A notícia na íntegra vocês podem ler no site oficial. Libera aí pro povo, Metrópoles. Já basta de Brasília restringir a história da capital do país aos grandes veículos de mídia que sonegam todo o seu conteúdo, acervo e memória - que deveria ser aberto e acessível.
Muito bom!
ResponderExcluirNo Brasil temos muitas dessas figuras que fazem cinema independente, mas que infelizmente não são muito conhecidas fora de sua área. Ou até são, mas dificilmente temos acesso aos seus filmes. Rambu da Amazônia, João Amorim em Santa Catarina, Afonso Brazza em Brasília, e tantos outros que eu não lembro ou nem conheço.
Eu adoraria ver todos os filmes de todas essas figuras, mas é coisa mais rara que goiabada cascão em caixa. E pra baixar, então?! Nunca vi. Fica uma sugestão ao site, um especial Afonso Brazza e quem sabe dos outros cineastas também.
Abraço, e sigam o bom trabalho! 19/6/15 14:44