Crítica: ''O Dia da Besta'' (1995); Caos social e sinistras profecias bíblicas enigmáticas

O fim do mundo está muito próximo... e para impedi-lo, é preciso fazer um conluio com o próprio Satanás.

Padre, Afilho e Espírito Pranto

Este é, sem dúvidas, um terror espanhol sensacional. Um dos meus favoritos com essa pegada e dentro da temática satânica, ''El día de la Bestia'', de 1995, é dirigido pelo grande Àlex de la Iglesia (Dance with the Devil, The Oxford Murders, Dying of Laughter, etc). O filme passa-se na Espanha no ano de 2000. Contou com um orçamento relativamente alto: U$ 1,5 milhão.

Talvez pareça muito para um filme (relativamente) tão simples, mas levando em conta toda a excelência — elenco, produção, e pelos ótimos cenários e efeitos especiais, este orçamento pode ser considerado mais do que justo. Em suma: é um filme que contou com muita gente para poder ser feito — em cenas pontuais, usaram centenas de pessoas para fazer cenografia.

FICHA TÉCNICA DESTE FILME:
Título original: El Dia de la Bestia; País: Espanha; Diretor: Álex de la Iglesia; Estrelando: Álex Angulo, Santiago Segura, Armando De Razza; Lançamento: 1995; Orçamento: U$ 1,5 milhões (estimado); Gêneros e categorias: Suspense, terror, ação, profecia, apocalipse; Duração: 94 minutos

CRÍTICA SEM SPOILERS:

Cenários apocalípticos de uma Madrid lasciva e caótica

Na primeira cena, a cena de abertura, os sinos de uma paróquia tocam impassivamente, enquanto um padre ouve de seu subordinado que ele haveria de cometer pecados. Muitos pecados! O clima do filme já é construído de forma rápida, e o gancho é simples... porém, instigante. Se você tiver uma boa intuição, vai sacar facilmente algumas coisas, está tudo sub-explicado, nas entrelinhas. O padre Ángel Berriartúa — personagem em questão, decide pedir a ajuda ao padre da paróquia, porque ele afirma ter encontrado, através de matemáticas, a data exata da ascensão da Besta na Terra.

O padre sofre uma acidente terrível... entram os créditos.

''Cometerei muitos pecados, padre. Com a ajuda de Deus.''

ENREDO: O Padre Angel anda pelas ruas de Madrid, fazendo pequenas atrocidades sempre que pode — ele arranha carros, rouba esmolas de mendigos, e se apropria da bagagem de um transeunte que cruzou o seu caminho. Ele peca onde pode, e como pode, vendo cada pessoa no seu trajeto sinistro como um sinal do destino em potencial. E mesmo passando a imagem de um homem que faz o mal como meios para chegar a um fim. As imagens e créditos rolam, e você já consegue ter a sensação caótica do filme.

Ator Santiago Segura como o Headbanger José Maria

Angel chega até uma loja de discos de Black e Heavy Metal. Ele entra e pergunta ao vendedor, José Maria a respeito de álbuns que possuam invocações satânicas e/ou mensagens subliminares satânicas, o vendedor olhe oferece um K7 e eles trocam contato.

Prosseguem-se os fatos e logo José Maria e Angel se tornam amigos, quando Angel compartilha de sua previsão apocalíptica com Maria. Não cético, muito menos incrédulo, Maria toma aquilo por verdade, e decide a até mesmo, de certa forma, inocentemente, ajudar a missão do Padre.

E esse gramunhão? É pesado o suficiente?

A amizade se constrói, lentamente, quando o Padre passa a mudar para a casa do satânico José Maria, na verdade, um apartamento com um quarto anunciado para alugar. Lá vemos um tiozão com retardo mental que é diariamente 'elevado' com ácido por seu neto José Maria, que gostava de ficar pelado pela casa e uma jovem 'inocente', Mina, tudo se procede pacificamente, até o dado momento.

É quando num programa de TV, um 'ocultista' apresentador de um programa fajuta chama a atenção do Padre Angel, o conhecido 'mediúnico' Professor Cavan, como era chamado fazia exorcizações, rituais e 'mágicas' em seu popular programa de TV.

O destino, que antes unia Maria e Angel, agora faz com que ambos, ousados, fossem invadam a residência de Professor Cavan em busca de um ritual de pacto com o demônio. Resumidamente, após alguns fatos e vários contratempos, ele concorda em fazer tal ritual com os dois 'malucos'.

Armando De Razza em ótima interpretação: Professor Cavan

A essa altura do campeonato, ambos convencidos e unidos pelo pacto profano, os três compartilham do mesmo objetivo, Angel, Maria e Cavan, solitários, sem ajuda, nem mesmo fé alheia, são deixados a um destino imprevisível, marcado por acontecimentos irônicos e sarcásticos, eles partem por toda Madrid a procura de respostas e de sinais do demônio, seria loucura ou somente insanidade?  

Esse filme é engraçado e irônico apesar do tema pesado, é sempre engraçado ver as pegadinhas com a ideia de 'destino', um padre tendo que pecar pra 'salvar o mundo' é um fato no mínimo irônico, a junção que jamais aconteceria normalmente, de um mediúnico, um Metalhead e um padre juntos em um só objetivo e em uma 'missão mortal' é algo originalíssimo no filme.

O padre que geralmente atenderia as confissões de um ''metaleiro'' e um apresentador de TV fajuta, agora se unia em pecado a ambos. A jornada é longa e muitas coisas acontecerão, vale a pena conferir cada minuto dessa aventura sombria.

Para mim, é a obra-prima do cineasta Álex de la Iglesia. Esse é um filme e tanto. Vamos às análises dos detalhes:

EFEITOS VISUAIS: ficaram ótimos — levando em consideração vários detalhes, como época, orçamento, Chroma Key, entre outros. A maquiagem ficou ótima, bem visceral mesmo. Atuação — em conjunto, acerta na mosca quase sempre. O casting de elenco foi muito acertado, em todos os respectivos papéis principais.

ARGUMENTO/ROTEIRO: Lindo, sarcástico, visceral, humor negro, e muito bem elaborado — sendo simples. Ele deixa muito bem claro e detalhado quase tudo — e o que não fica, pouco importa pois lida com o imaginário e nem tudo deve e/ou merece ser explicado.

TRILHA SONORA: Impecável. Sou suspeito pra falar porque curto muito Metal, reclame quem não gosta. A trilha original tem um tema empolgante que se repete dos créditos iniciais ao longo do filme, criando uma identidade interessante e de um universo bem desesperançoso e de caos. *E diga-se de passagem, um riff bem original — que se copia alguma coisa, não está nada patente.

O filme tem muito pouca coisa pra se considerar Trash mas se eu pudesse relevar algo no aspecto seria maquiagem — mas entenda-se, não que tenha ficado ruim, mas acho que em certas partes, mas tem muitas liberdades artísticas, lida muito com o artesanal, e  foi feita de maneira a chocar o espectador. Garantiu cenas bastante memoráveis.

EM RESUMO: é um ótimo filme. É indicável especialmente para quem gosta de terror associado a Death/Black/Doom/Heavy Metal. Sobre o desfecho: excelente final. Assistam. Se possível, comprem e colecionem, também vale a pena.

TRAILER:

NOTA: 8.1

UMA PÉROLA DOS ANOS 90